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sábado, 8 de março de 2014

Dia internacional da mulher: a luta inacabada do feminismo

Dia internacional da mulher: a luta inacabada do feminismo
Não há dúvida de que a situação da mulher segue sendo uma das problemáticas sociais mais importantes de nosso tempo. No entanto, e pese ao longo caminho que ainda fica por percorrer, esta data também deve ser momento para recordar a esse valente punhado de pioneiras que se atreveram, quase sempre em solidão, a questionar as estruturas impostas desde uma sociedade machista, enfrentando à indiferença, o deboche, a incompreensão e o desprezo de seus coetâneos.

A luta pelos Direitos da Mulher remonta-se ao início da contemporaneidade. Em 1789, aRevolução Francesa, que derrubou as estruturas do Antigo Regime, promulgou os Direitos do Homem e converteu o súdito em cidadão, se esqueceu de conceder direitos políticos à metade de sua população. Desde o princípio, as mulheres foram excluídas da cidadania e seguiram sob a dependência de pais e maridos: pouco mudou para elas.

Neste contexto, Olympe de Gouges publicou na França seus "Direitos da Mulher e da Cidadã"; e Mary Wollstonecraft, na Inglaterra, a "Uma Defesa dos Direitos da Mulher". Foram as primeiras pedras da lenta construção do edifício da igualdade.
Dia internacionalda mulher: A luta inacabada do feminismo
Enquanto isto ocorria na política, a Revolução Industrial presenciava o nascimento da economia capitalista contemporânea. A primeira sociedade industrial, tempo de bairros negros e miséria operária, obrigou muitas mulheres humildes a sair de suas casas para incorporar ao trabalho nas fábricas. Não foi um caminho fácil. O salário feminino era menor e os homens olhavam-nas com receio, antes de mais nada, como uma ameaça para sua estabilidade trabalhista. Os estupros eram frequentes e os sindicatos não permitiam a entrada de mulheres.

Pese a tudo isso, era um passo importante: a mulher integrava-se na corrente produtiva capitalista. Já nada poderia pará-la. Em meados do século XIX, Flora Tristan pregava o socialismo e a igualdade nas fábricas e, pouco depois, Emma Paterson criava uma une de sindicatos de mulheres. Estava nascendo o movimento feminista.

A primeira onda deste movimento teve sua carta fundacional na declaração estadunidense de Seneca Falls (1848) e centrou-se na consecução dos direitos políticos e o voto feminino. Foi uma luta revolucionária, protagonizada por mulheres da burguesia que reclamavam a participação ativa na sociedade de seu tempo. Entre comícios, jornais, manifestações e prisões, a batalha das sufragistas teve seu primeiro sucesso em 1869: no Estado de Wyoming, e pela primeira vez no mundo (salvo alguns precedentes menores), a mulher branca pôde exercer seu direito de voto. Desde então, o progresso foi constante e o voto feminino foi-se estendendo, lentamente, pela Europa e América.
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Enquanto, o mundo mudava a um ritmo frenético. A ferrovia, o automóvel e o avião revolucionavam os transportes e as comunicações. A luz elétrica prolongou a jornada de trabalho e deu um grande impulso à vida noturna. Nascia a sociedade de consumo de massas e, com ela, o desenvolvimento das grandes superfícies, o cinema e todo o setor terciário. De maneira imediata, este novo capitalismo começou a demandar funções que tinham como especificamente femininos: caixas, secretárias, mecanógrafas e aeromoças. E, então, chegou a guerra.

A Primeira Guerra Mundial provocou um impacto sem precedentes na história da emancipação feminina. Seu poder destrutivo foi tal que duas gerações de europeus deixaram a vida nas trincheiras da França. Todos os homens em idade de trabalho foram recrutados para as fileiras. As fábricas ficaram sem ninguém e a produção cessou quando a sociedade mais precisava de sua indústria. A situação era tão desesperada que se adotou uma solução revolucionária: a incorporação em massa da mulher a todos os âmbitos do mundo trabalhista.
Dia internacionalda mulher: A luta inacabada do feminismo
Foi a necessidade que fez o mundo ver que as mulheres podiam desempenhar, tão bem como os homens, qualquer tipo de trabalho. Surgiram as creches e a moda experimentou a maior mudança de sua história: as saias mais curtas e o corte de cabelo curto, em princípio tão necessários para poder trabalhar mais comodamente, se converteriam depois em em moda na mão de Coco Chanel.

O fim do conflito trouxe campanhas orientadas a que as mulheres regressassem a suas tarefas domésticas; mas algo tinha mudado. O mundo anterior a 1914 tinha desaparecido e, com ele, toda uma forma de entender as relações trabalhistas. A presença da mulher em todos os âmbitos do trabalho seguiria seu caminho, lento mas seguro, durante a primeira metade do século XX.

A segunda grande onda do feminismo contemporâneo iniciou-se com a publicação do Segundo Sexo, deSimone de Beauvoir, em 1949. Ainda que, em meados do século, os direitos políticos eram já uma realidade na maioria de países ocidentais, a igualdade efetiva estava ainda bem longe de ser estabelecida. No contexto da revolução social dos anos 60, a mulher tomou consciência de que seguia subordinada, de que seus direitos sociais não eram reconhecidos, de que seguia sendo, definitivamente, o segundo sexo.

Começava assim um vasto movimento internacional pela libertação da mulher, com toda a força de uma juventude contestária e utópica. Na Mística feminina, Betty Friedan denunciava a insatisfação vital, íntima, amarga, de milhões de mulheres confinadas nas quatro paredes de sua casa. No meio do desprezo e da indiferença, os estudos sobre a mulher entravam na Universidade e Kate Millet pode denunciar a opressão sistemática do sistema patriarcal existente em sua Política sexual de 1970.
Dia internacionalda mulher: A luta inacabada do feminismo
As mulheres dos anos 70 lançaram-se à busca de sua própria identidade, protagonizando uma autêntica revolução social que subvertia as noções de gênero aceitas até então. Foram elas, que converteram o privado em político, as primeiras em denunciar sua subordinação ao homem no casamento e no trabalho, em criar centros de planejamento familiar e casas de asilo para mulheres maltratadas, em reivindicar a igualdade real em todos os âmbitos da vida. Atingiram o sucesso. Muitas de suas propostas, inicialmente revolucionárias, foram acolhidas pelos governos e hoje em dia são uma realidade que vai muito além de qualquer ideologia de gênero.

A partir do final dos anos 80, o mundo entrava em uma nova etapa. A queda do Muro de Berlim e o "fim das ideologias" preludiavam a terceira onda do feminismo contemporâneo, caracterizada pelas políticas de igualdade e a assunção de suas propostas desde as mais altas instâncias. Assim, na Conferência Mundial da Mulher em Beijing, auspiciada pela ONU, os Direitos da Mulher foram finalmente marcadas dentro do contexto geral dos Direitos Humanos. A maioria dos governos adotou medidas contra o maltrato e a discriminação; a igualdade converteu-se em uma demanda global.

O feminismo do século XXI tem ante si o estimulante desafio da diversidade. A existência de uma única maneira de ser mulher é impensável na sociedade da informação e do conhecimento. Centenas de correntes, de todos os sinais políticos e religiosos, reivindicam o direito a seu próprio pensamento. As mulheres da Ásia, África e América negam que o modelo ocidental do feminismo seja o único válido e encontram novas senhas de identidade em suas próprias sociedades. Resta muito por fazer. Há mil formas de ser mulher, mas um mesmo caminho pela frente.

Mulheres, parabéns pelo seu dia. Rosa arco-íris a cada uma de vocês.

Rosa arco-iris

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